Entrevistador: Abbud, na primeira parte da entrevista nós focamos um pouco na realidade editorial, na qual os novos autores estão inseridos e nas dificuldades enfrentadas para editar um livro. Nesta segunda parte vamos tentar nos ater mais a obra propriamente dita. Uma pergunta recorrente em fóruns e discussões em feiras literárias é como aconteceu o ato de escrever na vida do autor. É um processo que matura aos longo dos anos ou é algo repentino?
J.J.Abbud: No meu caso foi um longo namoro, cheio de idas e vindas. Eu sempre gostei de ler. Isso permite que a pessoa desenvolva alguma fluência na hora de colocar as idéias no papel; muito embora, tenho certeza de que isso não é condição "sine qua non". Ao ler as crônicas de Fernando Sabino, Carlos Drumond, Érico Veríssimo eu percebia que para fazer boa literatura não era necessário ser pretencioso. O grandes escritores escreviam sobre coisas corriqueiras comezinhas. Coisas a respeito das quais jamais acharíamos haver algo interessante. No entanto, descortinava-se um universo não imaginado com histórias fantásticas, engraçadas, comoventes e poéticas. Então eu pensei que fatos do dia a dia que eu presenciava, talvez pudessem também ser relatados de forma despretenciosa. Assim eu comecei na literatura, escrevendo pequenas crônicas e depois contos a respeito dos acontecimentos cotidianos.
Os amigos gostavam e me estimulavam a escrever mais. Na época, contudo, eu estava cursando medicina e a carga de assuntos relacionados era tamanha que eu sempre tinha que parar por algum tempo. Todavia, sempre que tinha chance voltava a escrever alguma coisa. Sempre o recomeço era mais difícil; tinha que vencer a inércia.
Entrevistador: Como o romance entrou na sua vida?
J.J.Abbud: Bom. Foi como uma consequência natural. Eu tinha uma história na cabeça, influenciada por alguns livros que havia lido, ainda adolescente (Eram os Deuses Astronautas? Deuses Espaçonaves e Terra de Erich Von Daniken) e imaginei uma história na qual um planeta semelhante ao nosso, mas ainda na idade da pedra, recebia visita de seres de uma civilização avançada, que interagindo no planeta, modificava boa parte da evolução natural do conhecimento huimano dali por diante.
Esse era o argumento principal da história que iniciei. Escrevia nas horas vagas à mão e à noite; uma colega de turma e incentivadora (Marcia) datilografava para mim. Diariamente outro colega (Marcelo) lia os manuscritos, dava opiniões e fazia críticas. Eu cheguei a escrever umas duzentas páginas do livro; mas como disse antes, o curso de medicina me absovia demais e eu deixei o livro incompleto em "stand by" por 17anos. É muito tempo.
Em março de 2002 senti muita necessidade em reescrever aquela história e passei a ler novamente os manuscritos. Porém, com uma cabeça mais madura e mais crítica, lentamente, um novo argumento tomou forma, muito mais plausível e atraente dando início a confecção do livro definitivo - Isidore.
Entrevistador: Do que trata Isidore?
J.J.Abbud: Isidore é um romance de aventura, mistério e ficção científica. Uma história que se inicia numa floresta tropical, passa pelo Caribe, Venezuela, Estados Unidos e termina no Brasil. Uma aventura com muitos núcleos de ação que gradaivamente vão interagindo até a definição do mistério e o epílogo da narrativa.
Entrevistador: Isidore é um romance longo, com mais de 600 páginas. Não foi difícil debutar no mundo literário com uma história tão comprida?
J. J. Abbud: Para ser sincero, quando comecei a escrever imaginava que um bom escritor deveria escrever um livro com no mínimo trezentas páginas. Como minha história se passa em vários países e abrange um periodo de vinte anos, não tive problemas quanto ao tamanho. Ao terminar, me dei conta que o romance tinha ficado um pouco comprido e até tentei reduzir; contudo, ao contrário do que pensei, tudo que foi escrito era importante para o enredo no que se referia a personalidade das personagens ou no desenvolvimento da trama em si. Desta forma, não consegui diminuir muito.
Mais tarde ao tentar editar descobri amargamente que quanto maior o livro mais difícil de se encontrar uma editora que se arrisque a editar, principalmente se o escritor for estreante. Desta forma tive de dividir a história em dois volumes para poder editar no Clube de Autores, que só aceitava no máximo 700 páginas por livro.
Estou decidido que meu próximo livro será menor. Bem menor.
Entrevistador: Como é escrever um livro de mais de 700 páginas? Não corre o risco de se perder no meio da história?
J.J.Abbud: Pode ser. No meu caso, não foi tão complicado pois cada núcleo era desenvolvido separadamente como se fossem várias pequenas histórias dentro de uma maior, relacionando-se, em determinado momento umas com as outras, fundindo-se paulatinamente. O dificil mesmo foi montar o quebra-cabeça do tempo entre cada núcleo. Outra dificuldade que tive foi a pesquisa realizada, para que as informações científicas discutidas no livro estivessem respaldadas num lastro real e verossímil; de forma que a história fosse crível em todos os aspectos.
Entrevistador: Em Isidore, existem diversas personagens, muitas tribos indígenas e nomes incomuns. Isso, de certa forma, não pode confundir o leitor?
J.J.Abbud: Sem dúvida, essa era uma das minhas mais sérias preocupações; a medida em que, o leitor ao encontrar muitos personagens e alguns com nomes incomuns pudesse desistir de continuar lendo. Por isso coloquei um glossário no rodapé de cada página para explicar os nomes das personagens ou as tribos a que pertenciam e suas características. Coloquei também um glossário dos termos científicos a medida em que eram mencionados na trama. Assim, ao aparecer algo que fizesse o leitor retornar a leitura, para identificar esse ou aquele personagem, o rodapé se encarrgava de aplacar a dúvida na própria página. Com o continuar o leitor já não iria precisar desses lembretes pois cada núcleo já estava bem sedimentado.
Também estou decidido que o próximo livro deverá haver menos personagens.
Entrevistador: Por quê o nome Isidore?
J.J.Abbud: Curiosamente o título de livro foi um desafio para mim. Meu primeiro manuscrito já nasceu com título. Isidore eu pensei muito para escolher. Achei que o título não poderia ser tão explícito. Como o livro envolvia mistério, o título também deveria suscitar esse tipo de pergunta que você fez. Essa era a intenção. O título é um dos inúmeros mistérios que permeia a história.
Entrevistador: Você já tem algum outro projeto em pauta?
J.J.Abbud: Sim. Já tenho o argumento do meu próximo romance. Estou na fase de pesquisa histórica e montando o esboço da história na minha cabeça. Ao passo em que o romance vá se desenvolvendo, irei postar no blog -isidore o livro- matérias afins e com conteudo de interesse geral.
Entrevistador: O que você gostaria de dizer aos leitores que estão lendo essa matéria?
J.J.Abbud: Diria que Isidore é um livro extremamente saboroso desde os primeiros capítulos, no qual mergulhará o leitor desde a pré-história da América do Sul com suas guerras e segredos arqueológicos até os princípios da física quântica para o esclarecimento dos mistérios envolvidos no romance, impossíveis de se imaginar.