quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Isidore. Entrevista com o autor. (Parte 1)

Entrevistador: Abbud, Como é a sensação de ser um autor e ver um livro publicado? 

  J.J.Abbud: Eu ainda não me sinto um autor. Sou só uma pessoa que tinha uma história curiosa na cabeça e achava injusto não compartilhar com os outros. O ato de escrever era como um exorcismo. Uma catarse. A sensação é difícil de descrever; talvez pareça mais com um rio caudaloso com uma correnteza que não se pode dominar.... Você sente a necessidade de colocar aquela ideia para fora, como se a história lhe consumisse por dentro, como se tivesse vida própria e não pertencesse a você. Muitas vezes eu me perguntava se conseguiria terminar, editar as ideias de forma lógica, confeccionar os parágrafos de forma inteligível e amarar a trama de modo a ficar coerente, agradável e acima de tudo interessante para quem lesse. Para resumir, a sensação de ser um autor é uma mistura de prazer e dor. Não necessariamente nessa ordem... (Risos). Quanto ao fato de ter um livro publicado é uma sensação de completude. De missão cumprida. Porém ficando aquela sensação de que poderia ser melhor. mais completo. 

  Entrevistador: Como assim, poderia ser melhor? 

  J.J.Abbud: O meu sonho; e talvez o sonho de toda pessoa que escreve é ter sua obra lida e admirada. O escritor após terminar seu trabalho sonha com uma editora que corrija, edite, distribua e divulgue sua obra. O sonho de qualquer autor é entrar numa livraria e ver seu livro exposto. Ver seu nome na capa e pessoas desconhecidas tocando em sua história lendo a sinopse, acariciando seu bebê... Literalmente é como um bebê que as pessoas olham na rua, acham lindo e as mães ficam todas orgulhosas. Conosco é a mesma coisa. A realidade porém é mais cruel e frustrante. Os brasileiros lêem pouco. Os chilenos e argentinos lêem muito mais que nós. Os livros no Brasil são caríssimos e as tiragens são pequenas, na maioria das vezes, pra minimizar os riscos. As editoras brasileiras não apostam muito nos escritores iniciantes. Geralmente, após um escritor iniciante terminar seu livro, ele manda varias cópias para diversas editoras no sudeste, na esperança de ter sua obra lida e editada. O que acontece corriqueiramente é que seu livro vai para uma pilha de outros tantos livros de autores iniciantes, e se sua sinopse agradar algum estagiário na editora, há uma chance de sua obra ser lida e avaliada. Vários fatores então entram em curso: Assunto, relevância, número de páginas e qualidade literária. É um verdadeiro vestibular. O problema é que você não tem um retorno a respeito do que houve com seu livro; se foi lido, se ainda está numa imensa pilha para ser lido ou se foi simplesmente descartado. A espera é dolorosa... É como um filho que desapareceu e você não sabe o paradeiro, se está vivo, se está feliz. É uma agonia. Por tudo isso, muitos escritores após terminarem seu livro, colocam os manuscritos numa gaveta e esperam os concursos literários para terem a chance de vê-los publicados. 

  Entrevistador: Com você aconteceu isso? 

  J.J. Abbud: Sim. Eu terminei Isidore no início de 2002. Como eu queria ter certeza de que o livro prestava, pedi a alguns colegas para ler e tecer comentários. Acredito que umas doze pessoas avaliaram, nos mais diversos níveis: Adolescentes no nível médio, estudantes universitários, Profissionais liberais das mais diversas áreas e até professores universitários. As opiniões eram unânimes: a história era boa e estava bem escrita, poderia ser melhorada aqui e ali, mas definitivamente deveria ser publicada pois as pessoas teriam interesse no assunto. Após cada opinião eu me debruçava novamente sobre a obra para avaliar os defeitos apontados e sempre aproveitava para corrigir a ortografia a sintaxe e o vocabulário que teimavam em apresentar alguma incorreção. Nesse ínterim, mandei a algumas editoras e não obtive resposta. Estava aguardando o momento certo para tentar a auto publicação (publicação independente) quando um amigo me relatou sobre o surgimento das editoras virtuais, sob demanda. Então eu percebi que uma revolução no mundo literário estava prestes a acontecer. 

  Entrevistador: Em sua opinião, em que as editoras virtuais, sob demanda, poderão acrescentar à literatura? 

  J.J.Abbud: A democratização da literatura. Agora o poeta poderá ter suas poesias publicadas independentemente se estas poesias darão lucro ou não. Os professores universitários terão mais possibilidades de dissertarem sobre temas em que são especialistas e divulgarem para o público acadêmico e em geral. Em qualquer parte do Brasil, onde haja uma pessoa com uma história na cabeça, ela poderá escrever e contá-la ao mundo. Isso abre uma nova fronteira na universalização das ideias e até dos ideais. Para os autores iniciantes a livraria virtual sob demanda possibilitou que se retirasse milhares de histórias das gavetas... É fascinante. 

  Entrevistador: Você então prevê o fim das editoras convencionais? 

  J.J.Abbud: Não. Quando a televisão chegou ao Brasil em 1950, achava-se que era o fim do rádio. Isso não aconteceu. O DVD também seria uma ameaça ao cinema, e isso também não se concretizou. O jornal impresso divide espaço com o rádio, os telejornais, as agências de notícias digitais e mesmo assim continua crescendo. O que se percebe é que um meio agrega, mas não faz sucumbir a mídia anterior. Com as editoras virtuais também será assim. Os E-books são uma novidade fantástica na universalização da literatura. Em qualquer lugar do mundo e a qualquer hora você poderá estar com aquela obra a qual está lendo. Isso irá também reduzir o preço final do livro permitindo assim o acesso a um público incomensuravelmente maior, às obras. Do ponto de vista da eco-sustentabilidade, os livros virtuais colaboram, e muito, para a diminuição do desmatamento e do efeito estufa por eliminação de CO2. Porém a magia de ter um livro nas mãos é indescritível. Sentir seu cheiro, tocar sua textura e marcar carinhosamente suas páginas antes de deitar. Isso nunca deixará de existir... Por isso é que o sonho de todo autor é ter seu livro exposto numa estante de uma grande livraria. As editoras virtuais também servem como uma vitrine para que as editoras tradicionais descubram autores iniciantes com potencial e os lance no mercado editorial. Essa, ao final das contas, é a grande oportunidade de o escritor ter sua obra exposta para avaliação do público, e em sendo uma obra com boa aceitação, poderá ser garimpada para o mercado editorial físico tradicional.

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